8º Seminário Online em Psicolinguística

24/08/2020 16:05

Convidamos a todos(as) para os Seminários Online em Psicolinguística/Online Seminars in Psycholinguistics, uma série de videoconferências sobre temas voltados para a aprendizagem e o processamento da linguagem. Cada seminário dá direito a certificado de participação como ouvinte. As informações sobre certificação são fornecidas durante a videoconferência. Os Seminários são organizados pelo LabLing (UFSC), com o apoio do PPGI, em pareceria com o Plibimult (UFC/POET). Esperamos vocês!

Línguas Naturais e Psico-semântica

Profa. Dra. Roberta Pires de Oliveira (CNPq-UFSC-UFPR)
🕤 27/08/2020 – 13h (Horário de Brasília)
Transmissão ao vivo: http://www.youtube.com/ppgiufsc

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Línguas Naturais e Psico-semântica

Profa. Dra. Roberta Pires de Oliveira (CNPq-UFSC-UFPR)

Mostro que as línguas naturais são cálculos interpretados autônomos aprendidos naturalmente. Discuto dois tipos de fenômenos semânticos a partir de dados do inglês e do português: itens de polaridade e a distinção massa e contável. Avento a hipótese de que as não coincidências na distribuição e interpretação de itens funcionais entre as línguas indicam micro-parâmetros. A existência de Singular Nu no PB versus sua não existência no inglês é um lugar de não coincidência. Experimentos com aprendizes de segunda língua e com falantes bilingues são uma fonte de evidências para  esses lugares de variação gramatical.

Bio

Professora Titular pela UFSC, pesquisadora do CNPq, estou vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPR e ao Programa de Pós-Graduação em Inglês da UFSC. Pesquiso sobre a semântica das línguas naturais de uma perspectiva bio-formal. Assumo que as línguas naturais são cálculos interpretados, como em Montague. Busco entender a variação entre as línguas, principalmente no sintagma nominal. Utilizo investigação psicolinguística para verificar hipóteses teóricas. As línguas indígenas do Brasil sempre estiveram no meu horizonte de interesse. Recentemente comecei a estudar o Rikbatska, uma língua em risco de extinção, participando de uma ação para produzir material para memória e vitalização dessa língua. Há não muito tempo, comecei a investigar essas questões de língua refletindo sobre bilingues e a questão dos parâmetros e da gramática universal. Tenho uma grande preocupação com a difusão da ciência e defendo a importância estratégica da linguística na escola.

Leituras

Bevilaqua, K; Pires de Oliveira, R. Bare Nouns Cross-Linguistically: Preliminary Experimental Results on the Mass-Count Distinction. In: Kiss, Tibor, Husic, Halima, Pelletier, Francis Jeffry (eds). The Semantics of the Count/Mass Distinction: Recent Developments and Challenges. No prelo.

 

Chierchia, G.; Pires de Oliveira, R. Contemporary Issues in Natural Language Semantics: an interview with Gennaro Chierchia D.E.L.T.A, 2020.

https://www.scielo.br/pdf/delta/v36n1/1678-460X-delta-36-01-2020360111.pdf

 

Pires de Oliveira, R. O plural no português brasileiro e no inglês: comparando através das línguas , Caderno de Squibs: Temas em estudos formais da linguagem, v. 5, n. 1, 2019. https://periodicos.unb.br/index.php/cs/article/view/31943

 

Pires de Oliveira, R. A conjectura de Chierchia e a logicidade das línguas naturais. Fórum Linguístico, 2020.

https://periodicos.ufsc.br/index.php/forum/issue/view/3085/showToc

 

Resumo estendido

Línguas naturais são cálculos interpretados autônomos.

Esse sistema computa propriedades de conjunto e deduz de maneira humana. Crianças com menos de 3 anos sabem usar any em inglês: (1a) é agramatical e (1b) é gramatical:

(1)       a.         * There is any cookie left.

  1. There isn´t any cookie left.

Não se trata de negação. Any aparece em sentenças afirmativas:

(2)       a.         If there is any cookie left, we are safe.

  1. Every student who read any book by Chomsky was convinced by him.

any ocorre em contextos de acarretamento para baixo, porque o sistema busca informação. (1a) não é informativo, de fato é uma contradição gramatical. Já proferir (1b) é altamente significativo porque se não há bolacha no domínio mais amplo, então não há bolacha em nenhum outro domínio. No Português Brasileiro, a distribuição de qualquer é diferente de any, embora eles compartilhem a livre escolha:

(3)       # Não sobrou qualquer bolacha.

Uma falante de inglês proficiente explicando sua participação numa reunião na universidade:

(4)       foi o tempo mais longo que eu nunca falei português.

A gramática do ever e never não é a mesma do nunca e . Bilingues permitem observarmos esses lugares em que as gramáticas não coincidem. Por hipótese esses são lugares de parâmetros. Essa é uma investigação que precisa ser feita.

Esse sistema dedutivo computacional é autônomo em relação ao sistema cognitivo mais amplo. A distinção massa e contável é gramatical, embora o sistema cognitivo distingua substância e objeto. Em Yudja, uma língua indígena do Brasil, massa é contável. No português brasileiro vernacular, livro em perguntas que ocorrem em testes de julgamento de quantidade, como em (5), não é nem massa nem contável, ao passo que book em inglês é contável:

(5)       Quem tem mais livro?          (massa e contável)

(6)       # Who has more book?        (massa)

Falantes do PB e falantes de inglês se comportam de modo diferente em testes de julgamento de quantidade: com (6) os falantes de inglês nunca contam, mesmo numa situação em que os átomos naturais estão salientes! Os falantes de inglês não contam com (6) porque eles sabem que gramaticalmente book é um predicado atômico, isto é denota um conjunto de átomos. A comparação, que está na gramática de more, solicita mais de um. Logo (6) é estranha. O falante é coagido a interpretar o contável como massa. Há muitas hipóteses experimentais a serem verificadas, incluindo questões de processamento. A predição é que essa diferença de tempo apareça no tempo de resposta em tarefas de julgamento de quantidade. No PB, a história é outra. Os falantes oscilam entre massa e contável porque não há informação gramatical no nome sobre ser contável ou ser massa. No PB, livro é neutro.  A diferença massa e contável no PB aparece no determinante. (5) é gramatical no PB por tanto mais quanto livro são cumulativos. No PB, muito traduz many e much. Esse é um lugar de não coincidência gramatical, podemos estar diante de um micro-parâmetro. Se isso for o caso deve aparecer em diferentes situações de biliguismo. Essa investigação precisa ser feita.